O projecto “Pinturas ao Ar Livre” http://pinturasarlivre.blogspot.pt/, começou há um ano a partir de um convite para fazer uma pintura exterior no espaço da Fábrica do Braço de Prata, em Lisboa. As Pinturas ao Ar livre são intervenções directas sobre espaços na natureza. Comecei por desenvolver este projecto como forma de dar uma nova resposta ao fluxo de pintura que quotidianamente vou produzindo. Entusiasmou-me imediatamente a ideia de deixar noutros locais, imagens pintadas que são escolhidas para dialogar com a especificidade do lugar. A natureza nas suas múltiplas formas e suportes surge assim como mais uma forma de dar escoamento á minha pintura. Não numa lógica de provocação aos meios convencionais de apresentação da obra de arte: os museus e as galerias, mas antes numa procura de outros suportes no meio natural e urbano. Pensando nestes locais como um imenso campo aberto, tão infindável quanto a imensidão de imagens que nos circunscrevem, e que têm sido a fonte do meu trabalho. Uma pedra, um muro, uma folha de plátano, uma tampa metálica ou uma batata, têm sido até agora os suportes eleitos para activar imagens que provêm da internet, do cinema, e da Historia de Arte.
Como forma de comemorar o primeiro ano decidi deslocar-me a Barbizon, Fontainebleau, onde deixei uma pintura ao ar livre. Na segunda metade do sec: XIX os pintores começam a deixar o atelier para ir para a floresta de Fontainebleau e aí no local, registar a natureza real. Fontainebleau, já anteriormente tinha sido objecto de um trabalho meu, no qual tratei o tema da pintura de paisagem na era do GPS e do Google Street View: http://projectofontainebleu.blogspot.pt/. O que fiz agora foi deslocar-me fisicamente ao espaço real que tinha representado nessa grande pintura, e aí realizar uma intervenção que repete a vista desse local preciso, tal como o encontrei no Google.
Se os pintores no séc. XIX tiveram os recentes tubos de óleo portáteis e a nova linha de comboio que ligava Paris a Fontainebleau, eu tive o Google Maps e os voos low-cost que me permitiram chegar a este local.
Neste momento encontro-me em Llorenc del Penedés, Catalunha onde estou a desenvolver um programa de residência artística na CeRCCa, Centre de Recerca i Creacio Casamarles. Este projecto tem como tema a memória da guerra civil espanhola, numa região que foi de forte resistência comunista e anarquista a um fascismo galopante. O meu projecto tem como única fonte de imagens o documentário de 1937 “The Spanish Earth”, realizado por Joris Ivens, escrito por Ernest Hemingway e John dos Passos. As imagens daí retiradas estão a ser pintadas sobre pedaços de mosaico cerâmico partido, estando a ser depois instaladas em vários locais na região.
Depois da Catalunha, irei procurar e descobrir outros sitios, e continuar a colocar imagens mais ou menos secretas ao mundo. Nesta era marcada pela imparável classificação especulativa do valor e de todos os recursos.
First year of the Open Air Paintings
The project "Open Air Paintings" http://pinturasarlivre.blogspot.pt/, began a year ago from an invitation to make an exterior intervention in the space of Fábrica do Braço de Prata in Lisbon. The Open Air Paintings are direct interventions over spaces in nature. I started to develop this idea as a way to give a new response to the flow of my daily practise of painting. I immediately felt enthusiastic to the idea of letting elsewhere, painted images chosen to engage with the specificity of the place. Nature in its many forms and supports emerges as a way to give more flow to my painting. Not on a logic of provocation of conventional means of disseminating the work of art: museums and galleries, but rather a demand for other media in the natural and urban environments. Thinking in these places as a huge open field, as endless as the multitude of images that circumscribe us, and that have been the main source of my work. A stone, a wall, a maple leaf, a metal lid or a potato, have been so far elected to activate the media images coming from the internet, film, and Art History.
As a way to celebrate the first year I decided to travel to Barbizon, Fontainebleau, where I left a open air painting. In the second half of the XIX century, painters begin to leave the studio to go to the forest of Fontainebleau and there on the spot, register real nature. Fontainebleau, had previously been the subject of my work, which treated the theme of landscape painting in the age of GPS and Google Street View: http://projectofontainebleu.blogspot.pt/ What I did here was to go physically to the real space that this large painting represented, and in this spot leave a painted intervention. A small painting that repeats the view of the precise location such as I found on Google.
If the painters in the nineteenth century had the new paint tubes, and the new train line linking Paris to Fontainebleau, I had Google Maps and low-cost flights that allowed me to get to this place.
Currently I am in Llorenc del Penedes, Catalunya where I am developing an artist in residence program at CeRCCa, Centre de Recerca i Creacio Casamarles. This project has as its theme the memory of the Spanish Civil War, which was a region of strong communist and anarchist resistance to the rampant fascism. My project has as its sole source of images the 1937 documentary "The Spanish Earth", directed by Joris Ivens, written by Ernest Hemingway and John Dos Passos. The images are then painted on pieces of broken ceramic tiles and are being installed in several locations in the region.
After Catalunya, other sites I will seek and find, and will continue to put more or less secret images in the world. In our relentless age, marked by the speculative rating and classification of all resources.
Martinho Costa
